TRIZ: tendências evolutivas

Um dos postulados da TRIZ e Inovação Sistemática é de que existe uma evolução dos sistemas técnicos, a qual é regida por leis e tendências.

Evolução na biologia e na tecnologia

Naturalmente, não podemos estabelecer um paralelo exato com a evolução como estudada na biologia, uma vez que os produtos e processos obviamente não geram descendentes, embora isso possa mudar com a nanotecnologia.

Entretanto, o conceito de evolução dos sistemas técnicos torna-se intuitivo para quem já leu um livro de história da tecnologia ou visitou um museu tecnológico. Aqui, me vem à mente o Deutsches Museum, em Munique, imperdível para quem se interessa pela história da ciência e tecnologia. Mas, voltemos ao nosso assunto.

A evolução dos sistemas técnicos

Ao observar a história da roda, da bicicleta ou de qualquer outro sistema técnico, verificamos uma sucessão de concepções alternativas. Em cada uma delas, o inventor procurou incorporar características que, da melhor forma:

– realizassem a função principal útil e outras funções úteis para os usuários;

– atendessem às necessidades, desejos e restrições, tais como estética, peso, custo, segurança, fabricabilidade, disponibilidade de materiais, entre outros.

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bicycle_evolution-eo.svg

A ideia de evolução dos sistemas técnicos em si não é originária da TRIZ, pois Engels, com suas leis da dialética, bem como outros filósofos mais antigos, já indicavam a sua existência. A contribuição da TRIZ e Inovação Sistemática neste tema foi explicitar a evolução na forma de leis e tendências. Como se sabe nas ciências, o benefício de leis é tornar os fenômenos previsíveis, calculáveis e controláveis.

A utilidade de estudar a evolução tecnológica

O estudo da evolução dos sistemas técnicos permite, portanto, aumentar a previsibilidade da evolução da tecnologia. Permite criar novos sistemas técnicos, por dedução, a partir de sistemas técnicos existentes.

As leis e tendências também podem servir como critério de decisão sobre qual a solução mais adequada para um problema, ou seja, qual a solução que modifica o sistema em acordo com as leis e tendências e não em oposição às mesmas e, portanto, terá maiores chances de “sobreviver”.

É claro para nós que, no caso de produtos e processos, fatores econômicos e culturais, frequentemente, mantém “vivos” produtos e processos que, claramente, violam as leis. Ainda aceitamos o selim de bicicleta desconfortável, o motor de combustão interna poluente e com baixo rendimento, o automóvel com massa de 1 tonelada para carregar uma carga de 80 kg (motorista), e assim por diante. Neste aspecto, a Natureza é muito mais racional e bem menos tolerante com as espécies mal adaptadas.

As leis da evolução dos sistemas técnicos

As leis da evolução dos sistemas técnicos, como formuladas no livro Innovation Algorithm,  são explicitadas e explicadas na tabela abaixo.

Leis Explicações
Leis da gênese dos sistemas técnicos (“estática”) 1) Completeza das partes do sistema Para existir, um sistema técnico deve ter um motor, uma transmissão, um sistema de operação e um sistema de controle. Para que um sistema técnico seja controlável, pelo menos uma de suas partes precisa ser controlável.
2) Condutividade de energia Todo sistema técnico é um transformador de energia. Para que funcione, é preciso que, pelo menos, um dos subsistemas seja capaz de conduzir energia. Para que uma parte do sistema técnico seja controlável, é preciso que haja fluxo de energia entre esta parte e o subsistema de controle.
3) Harmonização dos ritmos Subsistemas dos sistemas técnicos devem ter ritmos de operação compatíveis.
Leis do desenvolvimento (“cinemática”) 4) Aumento da idealidade O desenvolvimento dos sistemas técnicos ocorre no sentido do aumento de seu grau de idealidade. O peso, volume e área dos sistemas técnicos tendem a zero, mas, a capacidade de realizar a função não é reduzida.
5) Desigualdade da evolução dos subsistemas O desenvolvimento dos subsistemas de um sistema técnico é desigual. Quanto mais complicado um sistema, mais desigual é o desenvolvimento de suas partes.
6) Transição para o supersistema Quando o desenvolvimento de um sistema técnico isolado chega ao limite, ele é integrado num supersistema, como uma de suas partes.
Tendências de desenvolvimento dos sistemas técnicos (“dinâmica”) 7) Transição do macro para o micronível O desenvolvimento dos subsistemas de operação ocorre, primeiro, no macronível e, depois, no micronível.
8) Aumento do envolvimento de su-campos O desenvolvimento dos sistemas técnicos ocorre no sentido do aumento da participação de su-campos.

Um exemplo de sistema técnico simples: o lápis

Como exemplo da aplicação das leis, pode-se considerar um sistema técnico simples, o lápis. Considerando-se a Lei da Completeza das Partes do Sistema, verifica-se que o lápis corresponde ao sistema de operação. Uma evolução do lápis, mais completa, poderia conter motor, transmissão e controle, elementos cujas funções, no lápis, são realizadas pelos usuários. A aplicação da Lei do Aumento do Envolvimento de Su-campos indica que há vantagem (aumento da controlabilidade e precisão da execução da função) em criar novos su-campos e submeter o lápis à ação dos mesmos. A aplicação de uma das leis ou a combinação das duas poderia ter conduzido à concepção da plotadora / plotter.

O aumento da idealidade foi abordado em post anterior, bem como, em parte, a transição para o supersistema. Caso haja interesse por parte dos leitores, futuramente, poderemos abordar mais sobre este assunto e incluir as tendências da evolução.


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About the author

Engenheiro, professor, empreendedor e autor, Marco de Carvalho atua nas áreas de inovação sistemática, criatividade, desenvolvimento de produtos e gerenciamento de projetos.

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