TRIZ Future Conference 2012 – Relato do Primeiro Dia

Na semana passada, estive na décima segunda TRIZ Future Conference, que aconteceu de 24 a 26 de outubro de 2012 na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Este é um relato da minha participação no evento, em que 84 representantes de 24 países de todos os continentes participaram.

A conferência foi aberta com um tutorial de Val Souchkov, introduzindo a TRIZ para os novatos e um tutorial avançado, de Olga e Nikolay Bogatyrev, sobre BioTRIZ. Participei do tutorial avançado.

Os Bogatyrevs começaram apresentando ótimos exemplos de porque é desejável aplicar a biologia na engenharia. Que bomba feita pelo homem levanta 20 baldes de água até à altura de um edifício de 5 andares todos os dias, por centenas de anos, como as árvores fazem? Que tecnologia de transporte funciona todos os dias, por 60 anos, sem necessitar de manutenção, como as mulas conseguem? A natureza é campeã em desempenho e em economia de recursos, e deveria ser mais imitada pelo homem.

Buscar inspiração na natureza não é exatamente algo novo. A maior diferença que a apresentação de Olga e Nikolay fez foi destacar que tentar copiar diretamente as soluções naturais dificilmente funciona. É necessário interpretar o que a natureza faz. Nikolay deixou isto claro com o exemplo da figura abaixo, uma interpretação na linguagem tecnológica do que faz a mão humana. Para realizar a função da mão, que curva uma folha de papel de forma a aumentar a sua rigidez e permitir que seja lida na vertical, não é necessário copiar exatamente a mão. Pode ser que a necessidade seja por uma função, ou pelo resultado da função. A tradução de um domínio para o outro requer conhecimento da linguagem (biológica e tecnológica) e dos contextos de aplicação.

Nikolay mostrou ainda uma aplicação, realizada em conjunto com a Philips. No projeto, procurou-se emular os movimentos ciliares, amplamente encontrados na natureza (em nosso corpo, por exemplo, nos pulmões), que são uma solução extremamente eficiente para transportar fluidos viscosos (como o muco). Copiar exatamente o cílio é impossível, mas, conseguiu-se criar um mecanismo que imita o seu comportamento e é eficaz em realizar a sua função.

Logo após os tutoriais, ocorreu a cerimônia de abertura oficial.

Em seguida, o orador principal, Sergei Ikovenko, da GEN3 Partners, falou sobre a evolução desde a TRIZ clássica à TRIZ moderna. Para ele, a TRIZ encontra-se na segunda fase de sua Curva S, e precisa posicionar-se fortemente na área em que apresenta a maior possibilidade de fazer a diferença, que é a engenharia. Quanto ao futuro, Sergei acredita que há uma forte tendência de parametrização da TRIZ, com o uso de modelos matemáticos para descrição do problema e automação da geração de soluções.

Após a fala de Ikovenko, começaram as sessões paralelas. Ao contrário do que fiz no relato do Simpósio de TRIZ no Japão, desta vez vou limitar-me a escrever sobre as apresentações das quais participei.

Claudia Mareis (uma historiadora) apresentou sua pesquisa sobre os métodos de criatividade surgidos no pós-guerra: brainstorming, morfologia, synectics e TRIZ.

A mensagem principal da apresentação seguinte foi uma provocação aos TRIZeiros presentes. Dmitry Kucharavy, do INSA Strasbourg, falou que melhor do que resolver problemas é prevê-los. Ele apresentou casos de aplicação da curva de crescimento logístico (também conhecida como Curva S), demonstrando a possibilidade de uso da mesma em áreas diversas, possibilitando prever o futuro e planejar medidas para lidar com o mesmo.

Após o intervalo para o almoço, Darin Vincent (Intel da Malásia) iniciou os trabalhos da tarde com um caso detalhado em que foram utilizados conceitos de lean manufactuting e TRIZ.

Na apresentação “Usando TRIZ para inventar falhas”, foi abordada a Análise Antecipada de Falhas, como forma de complementar a análise que grande parte das empresas faz hoje utilizando FMEA. A AAF é uma forma de realizar a análise subversiva, que já foi abordada neste outro post.

Francesco S. Frillici falou sobre um problema da TRIZ, que é a seleção da melhor ideia. Ele estudou alguns métodos, desenvolveu um caso (vaporizador de roupas sem fio) e concluiu que o processo de hierarquia analítica é uma das melhores alternativas (foi o método mais confiável no caso). Houve a notável omissão do processo de convergência controlada proposto por Pugh e o apresentador foi lembrado disso pela plateia.

Em seguida, Lorenzo Fiorineschi analisou as principais ferramentas existentes para a definição da arquitetura de produtos e se/como a TRIZ poderia contribuir também para esta finalidade.

Tiziano Montecchi apresentou o sistema KOM, resultado de sua pesquisa, capaz de realizar a formulação automática de contradições e a busca de patentes nas quais as mesmas foram resolvidas.

Finalizando os trabalhos deste dia, o Prof. Daniel Sheu apresentou uma técnica de trimming baseada na TRIZ e um caso de sua aplicação, em que se chegou a uma racionalização radical num equipamento para a produção de semicondutores.

À noite, tivemos alguns minutos para descansar no hotel, seguido de um ótimo banquete no estilo português, num refinado local. Neste momento, houve muitas oportunidade para conversas e networking.

Também publicamos os relatos do segundo e terceiro dias da conferência.

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