Relato do Congresso Brasileiro de Gestão do Desenvolvimento de Produto 2011

Estou em Porto Alegre, participando do Congresso Brasileiro de Gestão do Desenvolvimento de Produto (CBGDP) como co-autor de dois trabalhos.

Primeiro Dia

Neste congresso destacou-se, logo de início, a aplicação dos conceitos e técnicas de Gestão do Desenvolvimento de Produto no planejamento e execução do próprio evento. A boa organização ficou evidente desde o processo de recebimento e avaliação de trabalhos e, no congresso, está sendo vivenciada na forma de uso do espaço físico, no programa e nos materiais. A equipe organizadora está de parabéns!

Na abertura, Ângela M. F. Danilevicz, professora da UFRGS, deu as boas-vindas e motivou os autores, palestrantes, painelistas e participantes para as discussões e atividades de networking, que deverão culminar com a elaboração de uma carta de intenções que contribua para a transformação do cenário de inovação no Brasil.

A conferência de abertura foi realizada por Fábio Henrique Trovon de Carvalho, Líder de Desenvolvimento de Produtos da Faber Castell. Ele apresentou um panorama da Open Innovation, desafios, limitações, aspectos políticos e gerenciais. Foi uma palestra muito interessante e repleta de casos, incluindo o FIAT Mio (figura abaixo) e o da própria Faber Castell, que tem reunido seus profissionais de P&D com os de outras empresas para identificar e explorar oportunidades de inovação.

Em seguida, houve uma pausa para café e networking, seguida pelas sessões temáticas. Participei da sessão Métodos e Técnicas para GDP, o Processo de Inovação e Open Innovation, onde três dos cinco papers foram apresentados, incluindo um de minha autoria, Criatividade em Problemas de Projeto e Processo com Auxílio da TRIZ (Teoria da Solução Inventiva de Problemas) / Inovação Sistemática. Escrito por mim e meus alunos Gustavo G. Brandalize, Claudinei G. Buzinaro e Luís G. de M. Chagas, o artigo apresenta dois casos de uso de conceitos e ferramentas da TRIZ em projetos reais. Pretendo fazer um resumo deste artigo em específico numa postagem futura.

Nesta sessão, houve duas ausências não informadas. Exceto situações de emergência, isso denota desconsideração da parte dos autores, que, se não poderiam ir apresentar, deveriam ter avisado a organização do congresso.

No período da tarde, participei novamente de sessões técnicas e do painel Empresa, Governo, Universidade: Que Barreiras Tem Impedido a Inovação, onde os painelistas elencaram impedimentos à inovação.

Os trabalhos deste dia encerraram-se com uma discussão entre membros do IGDP, da qual participei, onde se iniciou a preparação da carta de intenções que será um dos resultados do congresso. Finalizando o primeiro dia, participei do jantar de confraternização do congresso.

Segundo Dia

O segundo dia do CBGDP começou com o painel “Práticas de Sucesso da Inovação no Brasil”. A primeira apresentação foi do Sr. Naldo Medeiros Dantas, empresário e secretário executivo da ANPEI. Ele enfocou que a inovação deve ser abordada como um processo amplo, cujo resultado pode ser não apenas produto, mas, também, serviço, processo, plataforma e modelo de negócio. Defendeu, ainda, que a inovação precisa ser focalizada na efetiva criação de valor econômico e não apenas na criação de coisas novas como um fim em si mesmo. Ao final da palestra, o Sr. Dantas apresentou critérios e diretrizes relevantes para viabilizar e facilitar a parceria entre empresas e universidades.

A segunda apresentação do painel da manhã foi do Sr. José Pereira Jr., coordenador de open innovation da Natura. A Natura está entre as empresas brasileiras que melhor tem praticado a inovação aberta. Naturalmente, foram apresentados os casos mais esperados, em que houve o desenvolvimento de novos produtos em parceria com universidades. Porém, o que mais me chamou a atenção foi o desenvolvimento de aparelhos para uso nas pesquisas, como um que permite a avaliação não invasiva da pele humana. Inovação aberta é isso, não se limita a gerar produtos e serviços, mas, pode produzir equipamentos para a melhoria do próprio processo de P&D da empresa.

Em seguida, assisti às sessões técnicas, que incluiu a apresentação do trabalho “Aplicabilidade de tendências do comportamento do consumidor no mercado brasileiro: uma análise enfocada em eletroportáteis de cozinha”, de autoria de Arisdene S. Santos e minha, que já foi resumido aqui no blog.

À tarde, assisti a mais sessões técnicas e ao painel da tarde, com o tema “Is open innovation for firms of all sizes?” (“A inovação aberta é para empresas de todos os tamanhos?”), ministrada pelo Prof. Dr. Wim Vanhaverbeke, da Universidade Hasselt (Bélgica). Esta conferência foi excelente e enfocou as dificuldades que as empresas de pequeno porte tem com a inovação em geral e, em especial, com a inovação aberta. Ao mesmo tempo, Vanhaverbeke demonstrou que algumas empresas tem conseguido mobilizar recursos de forma altamente criativa e empreendedora e, apesar dos desafios, inovar colaborativamente.

Dentre os casos apresentados, chamou a minha atenção o da empresa Curana, que, de pequeno fornecedor de acessórios para bicicletas indistintos, pressionada pela competição destrutiva e com margens de lucro cada vez menores, passou a inovar, apesar de ter apenas 15 empregados.

Primeiro, a Curana começou a diferenciar-se com o uso da inovação aberta, no projeto de seus produtos, que a empresa passou a criar por meio da contratação de projetistas externos e colaboração com universidades para o desenvolvimento de novos materiais e processos de fabricação. De acessórios, a empresa chegou a o que passou a denominar “bicycle jewelry”, a qual é, naturalmente, vendida a preços muito maiores que os dos antigos acessórios.

O sucesso da “bicycle jewelry” foi tão grande que a Curana começou a receber pedidos dos fabricantes de bicicletas, que queriam passar a oferecer para o cliente final bicicletas já contendo os produtos da Curana – mantendo a marca Curana nas peças. Este foi o segundo passo na inovação aberta para a empresa, agora, com inovação no modelo de negócio e na marca.

Outros casos interessantes também foram apresentados. A mensagem central foi que a inovação aberta é possível e pode ser extremamente lucrativa, mesmo para pequenas empresas.

No final da tarde, aconteceu o debate “Empresa, governo, universidade: como construir sinergia para a inovação?”, em que foram discutidos os problemas, as oportunidades e as soluções para a parceria entre estes itens que formam a chamada tripla hélice da inovação.

Após o debate, voltei a participar da reunião dos membros do Instituto de Gestão do Desenvolvimento de Produtos, com o objetivo de criar uma carta de intenções do congresso, que será divulgada dentro em breve.

Terceiro Dia

No último dia do congresso, fomos brindados com uma excelente apresentação de Rafael Rocha Levy, da Allagi Open Innovation Services e diretor do Centro de Open Innovation do Brasil. Levy fez o que prometeu, na programação do congresso, que faria. Descreveu com precisão como funciona o empreendedorismo de venture capital, por meio de um exemplo.

Após a apresentação, fiz mais um pouco de networking, despedi-me dos amigos e fui me preparar para o retorno a Curitiba. Muitos participantes ainda permaneceram no período da tarde, para as visitas técnicas à Braskem e Continental.

Os organizadores do evento prometeram disponibilizar, no site do evento, as apresentações e as fotos que registraram estes três dias de produtivo aprendizado coletivo.

Parabenizo e agradeço à comissão de organização e a todos que atuaram no congresso, pelo ótimo trabalho realizado.

About the author

Engenheiro, professor, empreendedor e autor, Marco de Carvalho atua nas áreas de inovação sistemática, criatividade, desenvolvimento de produtos e gerenciamento de projetos.

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