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Na era da informação e da inovação contínua, entender o papel das patentes torna-se extremamente importante para qualquer profissional ligado ao desenvolvimento tecnológico. As patentes não apenas ajudam a proteger invenções, mas também contribuem para vantagens comerciais estratégicas.
Esta postagem tem o objetivo de esclarecer o universo das patentes e do processo de patenteamento, fornecendo um guia confiável para aqueles que estão começando a explorar este campo.
Introdução
Uma patente é um direito exclusivo concedido a uma invenção, que permite ao inventor ou ao titular da patente controlar o uso, a produção e a venda da invenção por um período determinado. No contexto do desenvolvimento tecnológico e inovação, as patentes são fundamentais, pois incentivam a pesquisa e o desenvolvimento ao garantir que os inventores possam colher os benefícios econômicos de suas criações.
Historicamente, o sistema de patentes começou como uma forma de incentivar os inventores a compartilhar seus conhecimentos em troca de um monopólio temporário sobre a nova tecnologia. Este sistema evoluiu ao longo dos séculos, adaptando-se às novas demandas da sociedade e da economia global, tornando-se uma ferramenta indispensável para o progresso tecnológico.
O que pode ser patenteado?
Para uma invenção ser patenteável, ela deve cumprir três critérios fundamentais: novidade, atividade inventiva e aplicabilidade industrial. A novidade significa que a invenção não pode ser parte do estado da técnica, ou seja, nada anteriormente conhecido ou usado pode ser considerado novo. Atividade inventiva, ou não-obviedade, requer que a invenção não seja uma etapa óbvia para alguém com conhecimento e experiência na área técnica. Por fim, a aplicabilidade industrial implica que a invenção deve ser utilizável em qualquer tipo de indústria.
As patentes podem ser concedidas para produtos (como dispositivos, aparelhos, composições químicas) e processos (métodos ou ações para produzir algo). Exemplos incluem novas máquinas, dispositivos médicos e compostos químicos.
Por exemplo, a patente US5200573A abrange um projétil com uma matriz de cavidades na superfície (imagine uma superfície como a de uma bola de golfe), que exemplifica uma inovação em design de munições. A patente refere-se a um projétil, mas, a matriz de cavidades tem inúmeras aplicações que envolvam objetos deslocando-se num fluido ou fluidos deslocando-se ao longo de objetos. Tal matriz é capaz de reduzir a camada limite do escoamento, o que traz muitos benefícios e potenciais aplicações, as quais são reivindicadas na patente.
Outro exemplo é a patente US20030085296A1, que descreve um dispositivo para controlar furacões e tornados. Essa patente é uma de uma grande série de patentes que demonstram que o controle climático é uma realidade e não uma teoria conspiratória.
Estes exemplos mostram a diversidade de invenções que podem ser patenteadas, abrangendo desde melhorias em produtos existentes até inovações radicais que abrem novos campos de tecnologia.
A seguir, continuaremos a explorar os aspectos mais detalhados e técnicos do processo de patenteamento nas seções subsequentes.
O que não pode ser patenteado?
Apesar da ampla gama de invenções que podem ser protegidas por patentes, existem categorias específicas de ideias e inovações que são explicitamente excluídas da patenteabilidade. Essas exceções são fundamentais para manter um equilíbrio entre incentivar a inovação e permitir a livre circulação de conhecimentos e ideias essenciais para o desenvolvimento social e tecnológico.
Primeiramente, descobertas científicas, teorias matemáticas, e métodos matemáticos não são patenteáveis, pois são considerados descobertas de algo que já existe na natureza ou abstrações puras. Além disso, métodos para tratamento humano ou veterinário (incluindo procedimentos cirúrgicos e de diagnóstico) e plantas ou animais existentes na Natureza não são patenteáveis.
Para ilustrar, considere o caso dos algoritmos de software. Enquanto o software em si é passível de registro de programa de computador, os algoritmos puros, que são essencialmente métodos matemáticos, não são. Um exemplo famoso envolve as tentativas iniciais de patentear algoritmos de criptografia, que foram negadas sob a fundamentação de que representavam métodos matemáticos abstratos.
Processo de obtenção de uma patente
O processo de obtenção de uma patente é meticuloso e complexo, projetado para assegurar que apenas inovações genuínas recebam proteção. Este processo é dividido nessas etapas:
- Buscas de Anterioridade: o primeiro passo é realizar uma busca exaustiva para verificar se a invenção é realmente nova. Isso envolve pesquisar bancos de dados de patentes nacionais e internacionais para garantir que a invenção não tenha sido divulgada ao público de qualquer forma anteriormente. Ferramentas como INPI, Google Patents, Espacenet e Patentscope são comumente utilizadas para este propósito.
- Preparação e Depósito do Pedido: após confirmar que há originalidade, o próximo passo é preparar e depositar um pedido de patente, que inclui uma descrição detalhada da invenção, reivindicações definindo o escopo da proteção desejada, desenhos e um resumo. Este pedido é submetido ao escritório de patentes relevante, como é o cado do INPI no Brasil.
- Etapas de Exame: uma vez depositado, o pedido de patente passa por um exame rigoroso onde um examinador avaliará se a invenção cumpre todos os requisitos de patenteabilidade, incluindo novidade, atividade inventiva e aplicabilidade industrial. Este processo pode incluir uma série de correspondências onde o examinador pode solicitar esclarecimentos ou modificações.
- Prazos e Marcos Temporais Importantes: o processo de patenteamento pode ser longo, geralmente levando vários anos. A patente, uma vez concedida, é válida por um período de 20 anos para patentes de invenção e 15 anos para modelos de utilidade, a partir da data de depósito. Durante este período, o titular da patente deve pagar taxas anuais para manter sua patente válida e em vigor.
Cada uma dessas etapas é necessária para assegurar que a proteção conferida pela patente seja robusta e defensável, refletindo o verdadeiro valor da invenção no mercado e na sociedade.
Custos de patenteamento
Obter uma patente pode envolver custos significativos, tanto oficiais quanto com consultoria especializada. Os custos oficiais incluem taxas de depósito, taxas de exame, anuidades e, eventualmente, taxas de manutenção após a concessão da patente.
No Brasil, por exemplo, a taxa de depósito de um pedido de patente de invenção é de R$ 235,00 (valores de 2023), enquanto a taxa de exame inicial é de R$ 615,00. Além disso, são cobradas anuidades a partir do terceiro ano após o depósito, iniciando em R$ 111,00 e aumentando gradualmente a cada ano.
No entanto, os custos com consultoria especializada podem ser muito maiores, especialmente para pedidos de patente complexos ou que exijam a preparação de diversos documentos, como relatórios de buscas de anterioridade, reivindicações detalhadas e descrições técnicas aprofundadas. Esses custos podem variar de algumas centenas a dezenas de milhares de reais, dependendo da complexidade e do escopo geográfico desejado.
Para um pedido de patente de complexidade média, depositado apenas no Brasil, é possível estimar um custo total aproximado de R$ 10.000,00 a R$ 20.000,00, incluindo taxas oficiais e honorários de consultoria. No entanto, para pedidos internacionais via PCT (Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes), os custos podem ultrapassar R$ 50.000,00.
Estratégias de proteção por patentes
Decidir se deve ou não buscar proteção por patente é uma decisão estratégica que pode ter um impacto significativo no sucesso comercial e técnico de uma invenção. Aqui estão alguns pontos chave a considerar:
- Segredo Industrial x Patente: o segredo industrial, como receitas ou processos de fabricação que não são facilmente reversíveis ou discerníveis, pode ser uma alternativa ao patenteamento. Enquanto as patentes eventualmente expiram, um segredo comercial pode ser mantido indefinidamente, contanto que permaneça secreto.
- Motivos para Patentear ou Não Patentear: patentear oferece uma proteção legal que impede outros de comercializar, usar ou vender sua invenção sem permissão. Isso pode ser importante para startups que buscam investimento ou empresas que desejam garantir uma vantagem competitiva. No entanto, o processo de patenteamento exige a divulgação completa da invenção, o que pode ser contraproducente em casos onde o segredo industrial possa ser mantido com segurança.
- Licenciamento e Transferência de Tecnologia: patentes podem ser licenciadas para outras empresas ou indivíduos, criando uma fonte de receita sem que você tenha que produzir ou vender o produto diretamente. Isso é particularmente útil para inventores que não têm capacidade de produção própria.
Estes são alguns exemplos de tecnologias desenvolvidas em universidades e que foram licenciadas com sucesso para empresas:
- Litografia por Feixe de Elétrons (EBL): desenvolvida inicialmente na Universidade de Cambridge, a EBL permite a criação de padrões em nanoescala para chips de computador. Cambridge licenciou essa tecnologia para empresas como Intel e Samsung.
- Tecnologia de Etanol Celulósico: o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e a Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma tecnologia inovadora para produção de etanol a partir de biomassa celulósica. Essa tecnologia foi licenciada para empresas como a GranBio.
- Método de Produção de Proteína Recombinante: a UFMG patenteou um método para produção de proteínas recombinantes em células de inseto. Essa patente foi licenciada para empresas biofarmacêuticas brasileiras, como a Biobrás.
Adotar a estratégia de patente certa pode fortalecer a posição de mercado de uma empresa e apoiar o desenvolvimento contínuo de inovações. A escolha entre patentear e manter um segredo comercial, ou decidir como e quando licenciar uma tecnologia, é uma decisão estratégica, que devem ser alinhada com os objetivos globais de negócios e desenvolvimento de produtos da empresa.
Vigência e territorialidade das patentes
O entendimento da vigência e da territorialidade das patentes é necessário para formular estratégias eficazes de proteção intelectual. Aqui, descrevemos os aspectos principais:
- Duração da Proteção: as patentes oferecem uma proteção temporária, que varia conforme o tipo de patente e a legislação local. No Brasil, por exemplo, uma patente de invenção é válida por 20 anos e uma patente de modelo de utilidade por 15 anos, ambos contados a partir da data de depósito. Esta limitação temporal incentiva os titulares de patentes a maximizar o retorno sobre o investimento em inovação durante este período.
- Âmbito Territorial: as patentes têm validade territorial, ou seja, a proteção é efetiva apenas no território onde a patente foi concedida. Por essa razão, empresas que desejam proteção internacional devem solicitar patente em cada país onde desejam ter seus direitos protegidos, o que pode ser feito diretamente em cada país ou através de sistemas como o Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT), que simplifica o processo de depósito de patentes em seus estados membros.
- Sistema Internacional de Patentes: o PCT permite que inventores e empresas solicitem proteção de patente simultaneamente em vários países por meio de um único pedido internacional de patente. Isso proporciona uma maneira eficiente e econômica de buscar proteção em até 153 países contratantes, gerenciando a complexidade e os custos associados ao processo de patenteamento internacional.
- Importância do PCT e Patente Internacional: utilizar o PCT pode ser uma vantagem estratégica significativa para empresas que operam em múltiplos mercados internacionais, garantindo que a inovação seja protegida em todos os mercados relevantes. Este sistema não apenas economiza tempo e dinheiro, mas também oferece um período preliminar durante o qual o solicitante pode avaliar o potencial comercial da invenção antes de decidir em quais países prosseguir com o processo de patenteamento.
A compreensão desses aspectos é fundamental para que empresas e inventores possam planejar adequadamente suas estratégias de propriedade intelectual, de modo que obtenham o máximo benefício dos seus esforços inovadores em escala global.
Litígios de patente
Litígios de patente são uma realidade no mundo da propriedade intelectual, muitas vezes resultando de disputas sobre a violação dos direitos de patente. Aqui estão os aspectos principais desta área:
- Violação de Patentes: a violação ocorre quando uma entidade utiliza, fabrica, vende ou distribui uma invenção patenteada sem permissão do titular da patente. Identificar e provar a violação requer uma análise detalhada das reivindicações da patente e das ações do infrator.
- Processos de Invalidação: frequentemente, em resposta a uma alegação de violação, o réu pode tentar invalidar a patente questionando sua novidade ou atividade inventiva. Este processo envolve a apresentação de evidências que poderiam ter sido desconhecidas ou não consideradas pelo escritório de patentes no momento da concessão.
- Caso Célebre de Disputas por Patentes: o mundo das tecnologias de ponta, como os setores farmacêutico e de dispositivos eletrônicos tem visto algumas das disputas de patentes mais notórias. Por exemplo, a batalha legal entre Apple e Samsung sobre violações de patentes de smartphones envolveu múltiplas ações judiciais em vários países, refletindo a natureza global e a intensidade das disputas de patentes na era moderna.
Litígios de patente podem ser longos, caros e tecnicamente complexos, exigindo uma compreensão profunda tanto da lei quanto da tecnologia subjacente. Empresas e indivíduos devem estar preparados para defender suas invenções ou desafiar patentes que possam impedir suas operações, destacando a importância de uma estratégia jurídica sólida e proativa na gestão de ativos de propriedade intelectual.
Ferramentas de Apoio
Na gestão e na pesquisa de patentes, o uso de ferramentas apropriadas pode facilitar significativamente o processo e oferecer percepções relevantes. Aqui estão algumas das principais ferramentas utilizadas por profissionais da área:
- Bases de Dados de Patentes: essenciais para a realização de buscas de anterioridade e para o monitoramento de novas publicações de patentes, bases como o INPI, Google Patents, USPTO, Espacenet e Patentscope permitem aos usuários acessar milhões de documentos de patentes de todo o mundo. Essas plataformas são fundamentais tanto na fase inicial de pesquisa quanto na manutenção da vigilância competitiva.
- Softwares de Mineração de Patentes: ferramentas avançadas de análise e mineração de patentes ajudam a identificar tendências tecnológicas, potenciais colaboradores ou concorrentes e possíveis áreas para inovação. Estes softwares utilizam algoritmos para processar grandes volumes de dados de patentes e extrair informações estratégicas que podem guiar decisões de desenvolvimento e comercialização de produtos. Alguns dos mais conhecidos são PatSnap, Innography, Derwent Innovation, AcclaimIP, PatentInspiration e IPVisionSoft.
- Serviços de Consultoria Especializados: devido à complexidade do processo de patenteamento e às nuances das leis de patentes em diferentes jurisdições, muitas empresas optam por trabalhar com consultores especializados. Esses profissionais oferecem não apenas suporte no processo de depósito e gestão de patentes, mas também aconselhamento estratégico sobre como maximizar o portfólio de patentes para apoiar os objetivos de negócios globais.
O uso eficaz dessas ferramentas pode proporcionar uma vantagem significativa, permitindo uma gestão mais eficiente e estratégica da propriedade intelectual.
Conclusão
Patentes são mais do que meros documentos legais; elas são ativos estratégicos cruciais que podem definir o sucesso de empresas e inovadores individuais. Uma boa estratégia de gestão de patentes não só protege inovações, mas também maximiza seu potencial econômico e estratégico. Neste contexto, compreender os fundamentos do patenteamento e utilizar adequadamente as ferramentas de apoio é essencial para qualquer pessoa envolvida em pesquisa e desenvolvimento. As empresas devem considerar suas patentes como peças-chave na sua estratégia global, investindo na proteção e na gestão desses direitos para garantir sua posição competitiva no mercado.
Para saber mais
Para aqueles interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre patentes e propriedade intelectual, indicamos estes recursos:
- Introdução ao Sistema de Patentes, por A. C. S. de Abrantes, é uma obra abrangente que desvenda os meandros do sistema de patentes, desde seus fundamentos históricos até as práticas mais recentes. Ideal para quem busca uma base sólida sobre o tema.
- Manual De Redaçao De Patentes: Um Guia Pratico Para Uso De Leigos E Profissionais, de A. Magalhães, é um guia prático e acessível que descomplica a complexa linguagem das patentes. É indicado para quem precisa redigir pedidos de patente com clareza e precisão.
- Manual de Patentes de Invenção, por S. N. de Oliveira é uma referência completa e atualizada sobre o processo de patenteamento de invenções no Brasil. Aborda em detalhes todos os requisitos legais e as melhores práticas para garantir a proteção eficaz da sua criação.
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TGT