Inovação Aberta – Perguntas e Respostas

A inovação aberta é um assunto que está em grande evidência. Ele é, inclusive, tema do Congresso Brasileiro de Gestão do Desenvolvimento de Produtos 2011: Open Innovation e a Gestão do Desenvolvimento de Produtos: da Teoria à Prática.

Recentemente, concedi uma entrevista sobre este assunto, a qual é reproduzida aqui.

Em média, quanto por cento do faturamento as empresas brasileiras investem em inovação?

A média é de 3%, de acordo com a pesquisa PINTEC, do IBGE. Existem, entretanto, empresas investindo muito mais do que isso, chegando a 30% ou 40% do faturamento.

O conceito de inovação aberta já é muito difundido no Brasil? Por que?

O conceito é razoavelmente difundido. Creio que a maior contribuição do conceito de inovação aberta, de Henry Chesbrough, foi enfatizar, sistematizar e incentivar algo que já vinha acontecendo há muito tempo, tanto no Brasil como no exterior, ou seja, a formação de redes de inovação nas quais participam empresas estabelecidas, start-ups, universidades, institutos de pesquisa, entre outros. A diferença no momento em que vivemos, que impulsiona a inovação aberta, é a facilidade de acesso à informação, que foi enormemente ampliada com a internet.

Esse percentual deve crescer? Por que?

Sim. Por um lado, pela difusão do termo inovação aberta e de seu conceito. De outro, pela distribuição cada vez maior do conhecimento entre diferentes áreas e instituições. Muitas empresas estão passando a compreender que, na forma aberta, é possível ter acesso a capacidades complementares às suas e diluir os custos e riscos da inovação, que são elevados.

Por que algumas empresas preferem investir em inovação aberta?

Como comentei antes, inovar é arriscado e custoso. A inovação aberta permite às empresas dividir os custos e riscos com os parceiros, sejam eles outras empresas (fornecedores, clientes e até mesmo concorrentes) e universidades / institutos de pesquisa. Além disso, há a questão da agilidade, porque se pode identificar parceiros com as características necessárias para cada projeto.

Quais as principais vantagens da inovação aberta?

A principal vantagem é criar rapidamente o acesso a competências que a empresa não possui internamente e que levariam muito tempo e/ou demandariam muito investimento para ser criadas. Além disso, a empresa que abre seu modelo de inovação compartilha custos e riscos com os parceiros. Uma vantagem adicional é a possibilidade de criação de novas fontes de receita. Uma empresa que possua patentes que não tem interesse em explorar em dado momento pode oferecer esta propriedade intelectual para outras empresas e lucrar com isso.

Existem desvantagens nesse método, quais as mais comuns?

Uma desvantagem é que o controle sobre o processo, que costumava ser da própria empresa que, sozinha, desenvolvia seus novos produtos e processos, passa a ser compartilhado. Isso exige muito mais flexibilidade, maturidade e habilidade de negociação.

Inovação envolve, frequentemente, a geração de propriedade intelectual. Assim, é sempre preciso deixar muito claro, desde o início, quem terá os direitos de exploração da mesma e quais serão os critérios de distribuição de royalties. É importante que se compreenda que a parceria não serve apenas para dividir os ônus, mas, também, os bônus da inovação.

Que tipo de desafios e resistências as empresas geralmente têm de vencer para adotar o método internamente? Como é possível enfrentá-los?

Creio que o maior desafio decorre da necessidade de compartilhamento, tanto do trabalho envolvido como dos resultados. Ele pode ser enfrentado por meio da negociação e da formalização dos acordos em contratos. É claro que fazer isso não é tão simples, mas, os benefícios podem compensar largamente o esforço.

Quem são, em geral, os parceiros das empresas em processos de inovação aberta?

São outras empresas (fornecedoras e clientes), universidades e institutos de pesquisa. Há também casos de colaboração com concorrentes, em áreas específicas. Tem sido dado o nome de “Co-opetição” a este tipo de iniciativa, porque é uma colaboração entre aqueles que, a priori, seriam competidores.

Como são escolhidos os parceiros?

Os contatos pessoais ainda contam muito, mas, vem crescendo o uso dos sítios na internet voltados para facilitar a formação de parcerias, como o Portal Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia. Algumas empresas, como a Petrobrás e a Natura, possuem elas mesmas bancos de dados de possíveis parceiros para a inovação, onde os interessados nas parcerias se cadastram. Outras empresas confiam em redes sociais genéricas, como o LinkedIn, ou as específicas para a inovação aberta, como IdeaConnection e NineSigma.

Como é possível resguardar o sigilo industrial nesse processo?

Este assunto é crítico e demanda, principalmente, conscientização de todos os envolvidos para a seriedade da questão, prevenindo o vazamento indesejado de informações. O estabelecimento de punições contratuais é necessário, mas, creio que o foco aqui deve ser na prevenção. Punições são medidas corretivas que não irão impedir que aconteçam quebras de sigilo.

Como a empresa pode repartir os benefícios das inovações obtidas?

Algumas empresas optam por financiar os projetos e remunerar os parceiros no decorrer dos mesmos, por meio de bolsas, por exemplo. Nestes casos, em que a empresa está praticamente contratando mão de obra para seus projetos, normalmente ela fica com 100% do resultado gerado. Vem crescendo, entretanto, a modalidade em que há o compartilhamento dos riscos de desenvolvimento entre os envolvidos e, também, dos benefícios, por meio de distribuição dos resultados. Isso vem sendo fortemente incentivado pelas universidades e institutos de pesquisa, que enxergaram a nova fonte de renda. Existe uma certa resistência da parte das empresas. No final, para que as coisas aconteçam, é necessária flexibilidade de todas as partes.

Que resultados a inovação aberta costuma proporcionar às empresas que adotam o método?

Economia, com certeza; acesso imediato a recursos que não possuem e demorariam para formar e/ou contratar; compartilhamento de custos e riscos de investimento com os parceiros.

Gostaria de acrescentar algo que não perguntamos?

Gostaria de acrescentar que a IDEATRIZ, metodologia descrita no livro Inovação em Produtos, de minha autoria, dá suporte ao conceito de inovação aberta, especificamente no que se refere à geração de ideias de novos produtos e tecnologias a serem desenvolvidas.


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About the author

Engenheiro, professor, empreendedor e autor, Marco de Carvalho atua nas áreas de inovação sistemática, criatividade, desenvolvimento de produtos e gerenciamento de projetos.

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