Aprendizagem Ativa na Engenharia Mecânica: Fórmula B(exiga)©

No mundo da educação, temos buscado aplicar métodos que não apenas transmitam conhecimento, mas também inspirem criatividade e engajamento dos estudantes.

Nas minhas turmas de gestão de projetos e temas correlatos, tenho aplicado o Aprendizado Baseado em Projetos (ABP) e outras metodologias ativas de aprendizagem. Nesta postagem, compartilho a dinâmica, os resultados e as lições aprendidas com uma dessas abordagens: A Fórmula B(exiga)©.

Metodologias de Ensino Ativas e Aprendizado Baseado em Projetos

O aprendizado baseado em projetos e as metodologias ativas de ensino estão reformulando a educação moderna. Essas abordagens colocam os alunos no centro do processo de aprendizagem, incentivando-os a serem solucionadores de problemas e pensadores críticos. Ao invés de passivamente absorver informações, os alunos participam ativamente na criação de conhecimento, colaborando em projetos que têm relevância prática e aplicabilidade no mundo real.

O Caso

A inspiração para a Fórmula B(exiga)© veio de uma lembrança de infância, em que brinquei muitas vezes com uns carrinhos movidos a bexiga. Eram, na verdade, kits didáticos para demonstração de princípios físicos – ação e reação, neste caso.

Separei, então, materiais que acreditei que poderiam resultar nos carros para a competição. Construí dois modelos diferentes, para comprovar a viabilidade, explorar um pouco as possibilidades e me ajudar a definir a dinâmica do projeto, as regras e uma planilha de custos.

O Projeto: Métodos Ágeis na Prática

Inicialmente, houve a exploração dos materiais e a geração preliminar de alternativas. A seguir, os primeiros testes das partes dos veículos e as reformulações. No final, a correria para entregar algo que funcionasse dentro do apertado prazo disponível.

Algumas equipes investiram em um protótipo apenas. Outras, dividiram-se e exploraram soluções alternativas, optando por uma delas ao final.

A equipe que vamos denominar Lotus insistiu na ideia da autopropulsão e ganhou duas das quinze baterias com um veículo funcional e elegante.

A equipe Valete pensou “fora da caixa”. Estava tendo dificuldades para fazer um Fórmula Bexiga autopropelido, que era a minha intenção. Este grupo percebeu que a tal intenção, por falha minha, não fora devidamente explicitada nas regras. Criou, então, um modelo “a vela”. Novamente fugindo das restrições, a equipe considerou impulsionar seu carro com duas bexigas (o convencional seria uma bexiga), conduzida atrás do carro por um integrante da equipe. A equipe Valete conseguiu vencer duas das quinze baterias.

Devido ao descuido da Valete com a espionagem industrial, outras três equipes, a Pig, a Flintstone e a Box, que também estavam tendo problemas em conseguir fazer funcionar a autopropulsão, vislumbraram uma chance de sucesso, copiando a ideia da propulsão externa ao carro.

A equipe Pig ganhou este nome devido ao veículo de formas arredondadas que criou. Venceu duas baterias.

A equipe Flintstone teve um processo de criação interessante. Logo de início, comprometeram-se com uma configuração que lembrava o carro dos Flintstones. Venceram duas baterias.

A Box acabou sendo a campeã, porque conseguiu fazer um carro leve, eficiente, confiável e barato, que venceu 7 baterias. Este também ganhou no quesito custo.

A equipe Triciclo também foi muito criativa. O princípio de funcionamento inicialmente imaginado para o carro era a elasticidade da bexiga vazia, algo similar aos aviões movidos a elástico (também explorando um falha do meu briefing, porque minha intenção era ter apenas carros a reação). O primeiro protótipo não funcionou, mas, a equipe sabia que a elasticidade poderia vencer a corrida com mais eficiência do que o princípio da ação e reação. No desespero, acabou criando, então, uma maçaroca que apenas lembrava um carro e usou a elasticidade da bexiga vazia para estilingar o carro desde a linha de partida até à de chegada. Venceram duas baterias desta forma inesperada e arrancaram risos de todos os presentes.

Discussão Final

Ao final, fizemos uma discussão sobre o processo, os resultados e traçamos paralelos com os projetos da vida real. Pressão para entregar o resultado, projeto com iterações (como nos métodos ágeis), competição, recursos limitados, espionagem, defeitos nos materiais fornecidos, falta das ferramentas ideais, necessidade de manter mínimos os custos – estava tudo lá. As equipes divertiram-se muito e aprenderam mais ainda.

O vídeo abaixo mostra um pouco de como a coisa aconteceu.

O relato acima é da primeira vez em que apliquei essa atividade com os alunos. Atualmente, o regulamento está bem mais refinado.

O que você acha deste tipo de atividade? Já propôs ou participou de algo similar em sala de aula?

Conclusão

A experiência da Fórmula B(exiga)© foi um exemplo de como o aprendizado baseado em projetos pode enriquecer o ensino de engenharia. Esta atividade prática não só forneceu uma compreensão profunda dos princípios de engenharia e gestão de projetos, mas também fomentou a criatividade, o trabalho em equipe e a resolução de problemas.

Os alunos se envolveram profundamente, experimentaram a pressão do mundo real e aprenderam lições valiosas sobre inovação e adaptação. O sucesso dessa abordagem reafirma a importância de métodos de ensino interativos e práticos no desenvolvimento de futuros profissionais.


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About the author

Engenheiro, professor, empreendedor e autor, Marco de Carvalho atua nas áreas de inovação sistemática, criatividade, desenvolvimento de produtos e gerenciamento de projetos.

Comments

  1. Oi Marco,
    recebi o link do blog pelo pessoal que trabalha comigo está fazendo a pós…
    Achei muito bacana a iniciativa!
    Tem muita coisa que pode ser aproveitada (aprendida) em uma “brincadeira” como esta que vc propôs.
    Quando tiver oportunidade, vou conversar com eles pra contem ao nosso grupo de trabalho como foi esta experiência.
    Tomei a liberdade e compartilhei o link no meu facebook.
    Abraço/
    Elpidio

  2. Olá Elpídio,
    obrigado pelo comentário!
    Procurar tornar as aulas interessantes sempre foi um desafio para os professores, mas, ultimamente, me parece que isso é ainda mais necessário. Não gosto muito de usar o rótulo Geração Y, mas, de fato, os alunos são, hoje, mais impacientes e informados, o que traz uma exigência extra para os professores.
    Um abraço,
    Marco

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